domingo, 5 de julho de 2009

Piauienses ganham reconhecimento nacional como amigos da Mata Atlântica

Sanmya Meneses

A Rede de ONGs da Mata Atlântica anunciou, no final do mês de maio, a premiação dos vencedores do prêmio Amigo da Mata Atlântica de 2009. O destaque desse ano foi para dois piauienses: a jornalista piauiense Tânia Martins e o fotógrafo André Pessoa. Eles receberam a premiação pelo trabalho desenvolvido em defesa da Serra Vermelha, chapada com cerca de 460 mil hectares, localizada no Sul do Piauí, próxima aos municípios de Morro Cabeça do Tempo, Redenção do Gurguéia e Curimatá e que abriga um ecótono formado pelo Cerrado, Caatinga e Mata Atlântica.


A Serra Vermelha abriga uma das maiores biodiversidades do interior nordestino e foi considerada pelo Ministério do Meio Ambiente como uma das áreas prioritárias para a conservação da biodiversidade brasileira

Desde 2006, a jornalista Tânia Martins coordena uma campanha de preservação da região que vem sendo seriamente devastada em função do Projeto de Produção de Carvão “Energia Verde” e outros empreendimentos degradadores que são desenvolvidos na área. Em entrevista, a jornalista ambiental conta como foi ganhar a premiação e fala detalhes sobre o trabalho desenvolvido.


Como surgiu a idéia de trabalhar com a Serra Vermelha?

Ao viajar pelo sul do Piauí observamos que aquela área era severamente atingida pela grilagem e surgiu então a idéia de incentivar e dar apoio as comunidades locais para a criação de uma Unidade de Conservação na região. Desde 2006, realizamos uma série de reportagens que denunciam o crime ambiental mais comum na Serra Vermelha: a devastação da mata para extração de carvão vegetal.

Para se ter uma idéia, essa área é a última floresta de semi-árido em termos de preservação de um ecótono, o que chamamos da junção de dois ou mais biomas em uma região. No caso da Serra Vermelha estão presentes os biomas da Caatinga, Cerrado e Mata Atlântica.

Foi a partir da publicação dessas reportagens no Portal AZ, e também na Folha do Meio Ambiente, a mais importante e antiga publicação especializada em meio ambiente no país, que iniciamos o nosso alerta para a população e para as autoridades competentes acerca dessa problemática.


Qual foi a repercussão que as reportagens trouxeram na prática para a Serra Vermelha?

As reportagens foram utilizadas em uma ação civil pública através da Procuradoria da República para comprovar a existência de degradação na área. A partir disso o Tribunal de Justiça em Brasília paralisou o projeto “Energia Verde”, conduzido pela empresa JB Carbon, ficando esta proibida de fazer o uso indiscriminado da mata para a produção de carvão. Além disso, houve a abertura de um processo para a criação de uma Unidade de conservação na região e o próprio reconhecimento como área de Mata Atlântica, o que não acontecia até então.


O que o prêmio Nacional Amigos da Mata Atlântica representou dentro dessa luta pela preservação da Serra Vermelha?

A rede de ONGs da Mata Atlântica congrega mais de 300 instituições no país e esse reconhecimento é resultado de um trabalho feito com muito amor e persistência. Juntamente conosco também disputavam o prêmio os atores globais Marcos Palmeira e Letícia Sabatela, que também foram indicados por ONGs parceiras. Entre os vencedores de anos anteriores temos o Bispo Dom Luiz Capio por sua luta em prol do Rio São Francisco, o Movimento dos Atingidos por Barragens por seu questionamento à construção da hidrelétrica de Barra Grande e a ex-ministra Marina Silva por seu empenho pela aprovação da Lei da Mata Atlântica. Nossa luta continua e esse prêmio foi um excelente reconhecimento da nossa luta desde 2006.


Que tipo de conseqüência a degradação da Serra Vermelha pode trazer para o ecótono?

A região da Serra Vermelha é prioritariamente para conservação. Tudo que compõe o essa área precisa necessariamente ser preservado pelo Ministério do Meio Ambiente. Quando as chuvas caem nessa área, a água desce pelas serras e alimenta os lençóis para recarga hídrica, o que não acontece quando o solo se encontra nu. A conseqüência disso é a área da Serra Vermelha se transformar em um grande deserto ao longo de anos de devastação.

Além disso, são diversas as árvores de milhões de anos de existência que estão correndo o risco de desaparecerem. Para a fauna composta pelo maior número de espécie de aves da Caatinga (mais de 200), as aproximadamente 150 espécies de mamíferos e uma infinidade de outros animais, a devastação dessa região traz conseqüências muito sérias para o equilíbrio do meio ambiente.


As autoridades do Piauí ainda são omissas quando o tema é meio ambiente?

Os entraves meramente políticos ainda atrapalham muito a execução de ações importantes, como por exemplo, a transformação da Serra Vermelha em Parque Nacional. O Ministério Público Federal no Piauí quer que sejam agilizados os estudos ambientais necessários para a criação do Parque Nacional da Serra Vermelha, na região Sul do Piauí. Ainda em maio deste ano, o procurador da República Tranvanvan da Silva Feitosa oficiou ao Ministério do Meio Ambiente recomendando a adoção de providências para que os estudos sejam agilizados, a fim de evitar a devastação e desmatamentos ilegais praticados naquela região. A nossa intenção é continuar a luta através de mais denúncias e reportagens para que essa área seja preservada da maneira que merece.

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