quinta-feira, 9 de julho de 2009

ANÁLISE DE NOTÍCIA NO PORTAL WWW.180GRAUS.COM

Adara Gomes

Título: Feto de quase três meses é encontrado em horta. Veja!!
Chapéu: Tava dentro de saco plástico

Analisando alguns portais de notícia locais me deparei com a seguinte matéria “Feto de quase três meses é encontrado em horta. Veja!!”. Até certo ponto a matéria frisava exatamente o assunto principal: um feto encontrado. Porém para dar uma melhor estética no título e por falta de palavras a acrescentar, o jornalista do site em questão, no caso o 180graus, colocou um “Veja” e ainda sucedido por dois pontos de exclamação. A utilização desses acréscimos me trouxe um certo desconforto pessoal.

A primeira coisa que denoto é que a necessidade de um “Veja” em uma notícia, parece se tratar mais de alguma coisa menos catastrófica. Em geral, a utilização desta expressão é para matérias mais amenas e não tão trágicas. Pois bem, logo depois percebo os dois pontos de exclamação que expressam ainda mais um ar de “empolgação”. Na minha realidade é uma sinonímia de alguma coisa do estilo: “O circo chega a Teresina. Veja!!”.

Porém, nos portais de notícia, principalmente, o objetivo principal é a atração de leitores. Consequentemente, quanto mais leitores, mais acessos. E os acessos são a base principal da sobrevivência de um site. Palavras como “Confira” e “Veja” são bastante utilizadas para esta prática de atração de leitores. Porém o que eu estou tentando frisar é que existem certas matérias em que a utilização destas expressões não caem adequadamente, como a notícia em questão, sobre a morte do feto.

Passamos então para o Chapéu da matéria: “Tava dentro de saco plástico”. Em uma breve análise do site 180graus, podemos perceber que eles gostam de usar palavras mais coloquiais com o intuito de se aproximar mais de seu público e desta forma, atrair mais leitores e muito mais acessos.

Porém, ao meu ponto de vista, isso é uma agressão ao intelecto popular. A palavra “tava” não aproxima de modo algum o portal de seus leitores, pelo contrário, o objetivo midiático tem por base principal “educar” e transformar a opinião de seus leitores. A utilização deste tipo de palavra, totalmente coloquial, não condiz com a prática de um jornalismo conceituado.

Bem, para completar, podemos citar que diariamente temos inúmeras mortes na capital como um todo, que os jornalistas não dão conta de noticiar todas, porém o que chama a atenção nesta notícia é a questão de ter ocorrido à morte de um feto, ou seja, uma mãe abortou e abandonou seu filho dentro de um saco plástico. O símbolo que a figura de uma “mãe” repassa aos cidadãos é de um ser protetor, de alguém que poderia fazer mal a qualquer um menos a seu filho. Isso colocando a situação integrada na maioria dos casos e utilizando o conceito embutido na figura da palavra “mãe”. Porém, nesta matéria este ser simbolizado pelo amor de uma mãe matou seu próprio filho.

Adentrando à matéria, encontro outro chapéu: “Feto dentro de saco plástico” e o título: “Feto de quase três meses encontrado em horta. Veja”. Podemos então perceber a atuação de um editor nesta matéria. Com o uso da palavra “feto” duas vezes consecutivas na mesma chamada, o responsável pela equipe de jornalismo deve ter retirado a palavra “feto” e acrescentado o “Tava”. Algo que não teria ferido tanto a estética da notícia, seria a permanência da palavra feto (ao invés dessa palavra agressora do intelecto de seus leitores, no caso o uso do “tava”).

Também percebemos a reutilização da expressão “Veja”. Mas não vou me alongar novamente neste assunto, pois já foi percebido que este uso coube exatamente para o preenchimento de espaços na página inicial (já que se cortássemos o “Veja”, a notícia terminaria na palavra “horta” e um espaço em branco seria percebido na estética do portal).


Bem, então vamos à matéria:


Foi encontrado na manha desta segunda-feira (06) por populares um feto de aproximadamente três meses. Ele estava nas proximidades das hortas da Santa Maria das Vassouras, zona Norte de Teresina.

Os policiais relataram que ele estava dentro de uma sacola de plástico jogado no meio da rua. O saco já foi recolhido pela perícia que vai analisar as digitais deixadas.

O feto que já estava em praticamente formado foi levado para o Instituto Médico Legal (IML). O caso esta sendo acompanhado pela 22ª Distrito Policial que trabalha para tentar identificar a mãe.

Logo no primeiro parágrafo notamos a ausência do acento na palavra “manhã” e da falta de vírgulas entre a expressão ‘por populares’. Tirando isso, a matéria apresenta bem o lead da notícia, explicando o quê foi encontrado, por quem, quando e onde.

No segundo parágrafo podemos notar algo bastante utilizado por alguns jornalistas atualmente: a ausência da comprovação de fatos. Porque digo isso? Pelo simples fato de a redatora em questão ter iniciado a frase com “policias relataram”. Que policiais disseram isso? Como era o nome deles? Quem eram? Porque ela não especificou? Então fica um pouco claro (para quem já tem certo conhecimento do interior de uma redação), que o jornalista apenas refez a matéria de algum outro meio de comunicação e o noticiou, sem uma prévia constatação de a notícia era mesmo verdadeira ou não. Fora isso, o parágrafo está bem escrito.

Já no terceiro e último parágrafo, a matéria termina falando mais sobre o feto encontrado morto e quem está investigando o caso. O que me incomoda muito é perceber a preposição “em” sem nenhum sentido na frase “já estava em praticamente formado”. Está claro que ela não deveria ter sido utilizada nesse período, porém por pressa ou falta de análise posterior, tanto do jornalista redator, quando do editor do portal, a expressão sem utilidade continuou na matéria.

Mas fora erros gramaticais citados, a matéria passa o conteúdo principal que queria noticiar. Acredito que para finalizar adequadamente, a matéria poderia ter englobado melhor sobre o trabalho da polícia em identificar a mãe. Como eles estão tentando encontrar a mãe? Só através da procura de impressões digitais? Algum popular tem suspeitas de quem seja a mãe? Se sim, não foi citado de forma alguma na matéria.

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