quinta-feira, 9 de julho de 2009

ANÁLISE DE PRODUÇÕES MIDIÁTICAS LOCAIS

JORNAL O DIA, DE 06 DE JULHO DE 2009

ABORDAGEM ESTÉTICA

Camila Costa

O Jornal O Dia é uma produção impressa local que se diferencia das demais, pelo fato de ter, recentemente, adotado um modelo mais atrativo, mais sedutor de suas formas. A busca pelo belo, a produção de emoções pelos fenômenos estéticos passou a ser item fundamental no jornal. Enquanto todos os impressos no Piauí apresentam a capa com as mesmas características (uma foto ao lado de um pequeno texto que leva à matéria em si), o jornal em análise busca uma maneira de seduzir o leitor, principalmente na primeira página, através das imagens, cores (no jornal em análise, é usada a cor laranja para destacar a parte do esporte, que é o tema mais explorado aos finais de semana) e das suas chamadas destacadas. Todas essas imagens são passíveis de percepção estética – logo, de apreciação e informação.

No jornal em análise, a foto superior de capa, que mais chama atenção, foi feita no evento ocorrido no final de semana – o Piauí Pop – em que a banda Biquíni Cavadão ergue a bandeira do Estado, num gesto de valorização do nosso Estado.

O que podemos extrair de tudo isso é que a teoria do discurso estético parte do princípio de que, se a imagem também é um texto e há discurso das imagens, não apenas semântico, deve haver discurso estético, sintático, perceptível não logicamente, mas esteticamente.

“É possível analisar linhas de formas, texturas, cores nas imagens produzidas por uma sociedade, uma instituição ou um período, e a partir dessas marcas encontrar formas de interpelação (posicionamento e poder) e valorizações de determinados conceitos que são fundamentalmente ideológicos.”

“A análise de uma imagem é uma atividade semelhante à análise de discurso, mas tendo por objeto analítico especificamente imagens. Este tipo de estudo ou técnica tem por método interpretar e “desconstruir as imagens, em conteúdo e forma, considerando o contexto histórico-social de produção, o autor (emissor) e o público (receptor) que participaram de sua criação, com a finalidade de compreender e identificar sentido nas imagens.”

No entanto, analisando as demais páginas e cadernos do jornal percebe-se, principalmente no 1º caderno as imagens e textos não foram dispostos de modo sedutor. Com muito texto e pouca imagem, o que seduz é tão-somente a grande e variável quantidade de informações, pois são várias notícias “bombardeando” uma página e quem olha quer ler um pouco de tudo. Porém como dito, são pouquíssimas as imagens e, assim, muitas notícias ficam “pobres”, por não terem fotografias.

No caderno Dia-a-dia, o veículo de comunicação optou por abordar apenas o evento Piauí Pop, ocorrido no final de semana que antecedeu a data deste jornal. O caderno foi recheado de fotos, dos mais diversos momentos do evento. No último caderno – Concursos & Empregos, parece não haver preocupação nenhuma com a estética. Apenas a capa é em cores e com algumas imagens ajudando a atrair o leitor. Nas demais páginas não há uma foto ou ilustração sequer. Além disso, o texto foi posto de tal maneira que (quase) ninguém que olhar para a página se interessará por ela.

Numa reflexão sobre os cadernos de uma forma geral, somos levados a crer que as matérias que estão sem foto, principalmente no 1º caderno, foram feitas, com a devida licença, de qualquer modo. A impressão que passa é que o repórter não esteve no local dos fatos, pois se estivesse haveria imagens que comprovassem.


ABORDAGEM CRÍTICA

Continuando na mesma esteira da análise estética do Jornal O Dia, de 06-07-2009, podemos citar o caso do caderno Concursos & Empregos, que trata unicamente de oportunidades de emprego e concursos fora da realidade piauiense. Se fizermos uma pesquisa, veremos que há concursos abertos ou na expectativa de serem abertos em diversos municípios piauienses. Dois concursos encerraram as inscrições recentemente (TJ-PI e TRE-PI) e os jornais locais poderiam fazer uma abordagem sobre o tema.

Muitas pessoas saem da sua terra natal para trabalhar em outros locais, mas isto não é a regra. O que o leitor da cidade de Teresina ou demais municípios do Piauí quer ver ao ler o jornal local é oportunidades na sua região. Os concursos divulgados pelo Jornal O Dia eram destinados aos seguintes locais: Paraíba, Paraná, Distrito Federal.

Em relação ao caderno que se voltou totalmente para o PI POP, o Dia-a-dia, foi emitido um juízo de valor muito nítido ao falar do festival. Com o título “PI POP 2009 deixa saudades”, o jornal O Dia passou uma imagem extremamente positiva sobre o evento. Isto é de certo modo arriscado, pois se o leitor souber que a empresa O Dia é uma das grandes patrocinadoras do festival, ele deve ler mais cuidadoso sobre o que o jornal está falando sobre o assunto. Senão será um mero reprodutor do discurso emitido pela mídia. É certo que não foram divulgados em veículos locais ou por meio de boatos notícias negativas sobe o festival, mas o jornal foi muito opinativo (quando deve buscar, na medida do possível, a imparcialidade) quando não deveria ter sido.

Em relação a isto, pode-se falar sobre o jornal Meio Norte da segunda-feira subsequente à realização do Planeta Micarina (cujo responsável pelo evento é o próprio Grupo Meio Norte). Chegou a ser ridícula a abordagem do jornal sobre o evento. Da primeira à última página, falava-se da perfeição do evento, enquanto os demais meios de comunicação locais retratavam o fracasso, a desordem e a falta de segurança do evento. Portanto, observamos nos jornais locais a divulgação daquilo que mais convém ao grupo que está investindo naquele determinado evento, fato ou tema. E se o cidadão que observar aquilo não “consumir” aquela notícia com cautela, será um mero reprodutor deste mesmo discurso.

A manchete do jornal O Dia que está sendo analisada traz o seguinte título: “Estado vai pagar R$1,2 mi por mês em precatórios”. Após uma busca no portal O Dia, encontramos no mesmo dia da publicação deste jornal, uma notícia sobre o assunto (pode-se dizer até que é a mesma notícia) intitulada “Precatórios do Estado chegam a R$ 270 milhões”. O momento de postagem foi 06 de julho de 2009 – 03h51min, e a notícia traz a foto do presidente da OAB-PI, Norberto Campelo discursando. Pela leitura somos levados a crer que essa matéria foi “adequada” para ir à capa. Não é notícia de última hora, é algo sabido há tempos. Além disso, o presidente da OAB não estaria proferindo palestra durante a madrugada de domingo para segunda. A ideia foi colocar a foto para passar uma imagem de realidade, de preocupação e de ineditismo.
Portanto, para mim fica a sensação de que não se tinha assuntos para abordar nesta edição do jornal.

É sabido que às segundas-feiras os jornais são sempre menos atrativos e impactantes do que aqueles feitos durante a semana, que é o período em que “as coisas acontecem”. Mas colocar esta matéria sobre os precatórios na capa foi, para quem busca apurar o tema, uma abordagem, no mínimo, discutível. Além disto, chamadas de capa como “Correios fará concurso para 12 mil vagas” são informações já divulgadas há vários dias.


CONCLUSÃO

Portanto, é de suma importância que se façam reflexões e apurações como a exigida nesta disciplina, pois treina os alunos a serem críticos e procurarem nas entrelinhas tudo o que se passa por trás da divulgação de uma notícia nos jornais locais, por mais boba que ela possa parecer. É a análise de discurso das produções midiáticas locais.

O Jornal O Dia buscou, ao menos nesta edição estudada e na medida do possível, abordar fatos locais relevantes e interessantes ao cenário piauiense. No entanto, a crítica que se faz é que todas estas informações podem ser obtidas através da internet e muito antes de um jornal sair às bancas. Logo, o cidadão que paga uma assinatura ou vai a uma banca e paga R$ 2,00 por dia por uma jornal impresso quer ver abordagens mais aprofundadas, mais embasadas e mais complexas, e não aquilo que pode ser visto a qualquer momento pela web.

OBS¹: As citações colocadas no trabalho foram extraídas das anotações feitas durante as aulas da disciplina “Estética e Crítica da Mídia”.

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