quinta-feira, 9 de julho de 2009

Crítica de notícia do portal O Fuxico

Adara Gomes

Título: “Deborah Secco e Roger Flores saem para almoçar”
Chapéu: Dia de Passeio

Estava vasculhando alguns sites na manhã desta sexta-feira, dia 03 de julho, quando me deparei com a seguinte notícia: “Deborah Secco e Roger Flores saem para almoçar”.

Antes de abrir a notícia em si, fiz rapidamente um levantamento das hipóteses possíveis acerca do teor da matéria. Sim, porque, ao meu ver, os jornais, tanto impressos quanto on-lines, devem ter prioritariamente a preocupação de escreverem matérias que sejam, de alguma forma, relevantes para os leitores e não apenas “atrativas” aos acessos.

De qualquer maneira, pensei em quatro hipóteses que seriam relevantes para os fãs de Deborah (ou até de Roger), ou para a imprensa em geral, os seguintes:

1.Um dos dois (ou até mesmo os dois) teriam comido algo estragado no almoço e teriam sido internados.

2. A atriz em questão deveria ter dito, no dia anterior, que faria jejum em memória das crianças africanas que não ganham ovos de páscoa. E desta forma, havia descumprido sua promessa.

3. Haveria alguma possibilidade de separação do casal?

4. Alguma coisa subitamente estranha aconteceu nesse almoço, e quando digo “estranha” posso fazer uma comparação como algo do estilo: “arroz continha alguma espécie de drogas?”

Por fim, fui “clicar” na notícia, já não esperando algo de muita importância, na verdade. O teor da notícia era apenas uma foto onde Deborah, seu marido, mãe e enteada passeavam para almoçar. A matéria era exatamente assim:

“Nada de almoçar em casa. O domingo foi feito para reunir a família e passear. Deborah Secco, por exemplo, foi com o marido Roger Flores, com a mãe Silvia e a filha do jogador, Lara, almoçar num restaurante localizado na Barra da Tijuca, Zona Oeste do Rio.”

Enfim, a matéria não me sugeriu nada e muito menos, conseguiu me acrescentar algo novo, ou até mesmo uma informação “importante” sobre Deborah Secco ou sua família. O que ela e o resto de sua família fez são coisas que se repetem normalmente em nossas casas e em nossa rotina, a diferença é que não somos atrizes, nem celebridades, no caso, da Globo.

E é exatamente isso que me assusta. Fico assombrada com o fato de a mídia dar tanta importância a uma coisa tão prosaica, tão sem importância. Isso é o que chamamos na língua coloquial de: “encher lingüiça”, ou na língua web-jornalística: “falta de matéria”.

Agora me pergunto: “O que está notícia vai influenciar em minha vida?” Por acaso isso vai mudar o mundo, ou até minha forma de ver as coisas? Ao meu ponto de vista, claro que não.

Não estou aqui querendo dar uma de pseudo-culta, afinal, quem não gosta de uma fofoca de vez em quando? O fato é que a indústria da fofoca está faturando cada vez mais alto e em troca massacra nossos artistas para satisfazerem nossa curiosidade. Ser uma celebridade hoje em dia é sinônimo de não ter privacidade nem para ir a um almoço, como no caso. Daqui a pouco, até quando um artista for ao banheiro, será fato noticioso.

Será que a sociedade não está virando uma cultura alienada? Ou como diria Mauro Wolf, a cultura não está novamente se tornando massificada?

O autor italiano, em seu livro “Teorias da Comunicação”, repassa criticamente todas as teorias acerca da comunicação de massa e conclui que ‘de uma forma global, todos os estudos acerca da forma da mensagem mais adequada para fins persuasivos, salientam que a eficácia da estrutura das mensagens varia, ao variarem certas características dos destinatários, e que os efeitos das comunicações de massa dependem essencialmente das interações que se estabelecem entre esses fatores’.

E por alguns jornalistas não levar em conta todas essas variáveis, uma boa parte desse tipo de matérias produzidas resulta em algo sem sentido ou totalmente irrelevante, que, infelizmente, só nos leva ao atraso intelectual, ao meu ver.

Enfim, para não perder totalmente o foco, o que os verdadeiros jornalistas (e com diploma) deveriam fazer é escolher realmente o que for relevante, algo que aprendemos rotineiramente em nossos estudos e universidades: “O jornalista sabe o que é ou não é notícia”. Então porque não utilizar esta nossa base fundamental do ser midiático? Porque, sinceramente, a política do “pão e circo” de tempos medievais já se foi em muitas sociedades, mas ainda impera em algumas “imprensas”.

E daqui a pouco vem outro carnaval, nasce o bebê da Ivete Sangalo, a Cláudia Leitte resolve ter outro filho e mesmo assim, vai continuar havendo fome, outras tragédias naturais, como a de Cocal (ou mais especificamente em Algodões I, no Piauí), roubo e crimes atingindo a todos nós. E para nós?! Quais serão as melhores opções de notícia?!

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